BULLYING: UM VILÃO A SER VENCIDO
- Carolina Falandes
- 28 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Melhor Reportagem Impressa - Concurso de Comunicação USCS 2015
Um fenômeno que até poucas décadas passava desapercebido por professores, pais, psicólogos, psiquiatras e estudiosos em geral, chega a mídia e a sociedade com força total nos últimos anos, se revelando como um verdadeiro vilão que pode deixar seqüelas para toda a vida e até ocasionar o suicídio e outras tragédias. É o tal do bullying, um termo em inglês utilizado para retratar a prática de atitudes agressivas, físicas ou verbais, intencionais e repetitivas, que ocorrem sem motivação aparente e são praticadas por uma ou mais pessoas contra outras.
Todo mundo em algum momento da vida já praticou, testemunhou, ou até sofreu bullying. Pode-se considerar como exemplo as “brincadeiras de mau gosto”, apelidos pejorativos, fofocas, risadinhas, papel colado nas costas com termos ofensivos e outras formas de humilhação. Onde pessoas interagem, existe a possibilidade de sua ocorrência, como em escolas, universidades, na própria família, local de trabalho e outros.
Uma das razões que dificultam o combate e punição para este mal é que muitas pessoas ainda vêem com normalidade estas agressões e outras não denunciam por temerem repressões, porém, é importante que todos tenham conhecimento de que os atos de bullying no Brasil ferem princípios constitucionais, o Código Civil e, em alguns casos, o Código de Defesa do Consumidor.
Leonete de Melo Silva, 70, pedagoga com especialização em psicopedagogia, em seus 27 anos de trabalho na área da educação, presenciou diversas formas de bullying nas escolas estaduais em que trabalhou na capital de Alagoas, Maceió. Segundo ela, a situação era ainda mais grave há algumas décadas, por falta de preparo e conhecimento dos próprios professores sobre o assunto. “Atualmente, o bullying está sendo bem identificado nas escolas e em todo o meio social. Houve um despertar da Secretaria da Educação e da própria sociedade para este problema, que começou a ser enfrentado com o treinamento de professores e esclarecimentos para toda a população através de campanhas publicitárias. Porém, ainda há muito a se fazer”.
Segundo a pedagoga, um dos fatos que lhe marcou, foi o caso de um aluno de 12 anos que sempre estava envolvido em brigas e chorando pelos cantos. Um dia, após insistir em saber a razão do choro, ele esclareceu que os colegas o chamavam de “catador de lixo”. "Disse-lhe para estudar e mudar sua história. Fui me interar sobre a situação familiar da criança e descobri que era órfã e realmente catava lixo para ajudar a sua avó em situação de miséria. Na minha região, uma das maiores causas de bullying era a pobreza”.
Do ponto de vista de quem já sofreu e sentiu na pele este tipo de violência durante anos, como o estudante de cinema Matheus Xavier, 19, o sentimento que sobrou foi “raiva e tristeza por não ter feito nada que realmente gerasse algum efeito positivo”. Ainda, Matheus esclarece que já não enfrenta este problema, porém, relembra “minhas sexta e oitava séries foram horríveis”. Para o jovem, atualmente, as pessoas já conhecem o que é o bullying, “a informação está aí, basta os pais e educadores tomarem atitudes e investigar cada caso com mais rigor”.
Para a psicóloga Talita Barbosa Castro, 29, o papel dos pais é fundamental na orientação dos filhos sobre o bullying, “é função dos pais orientar os filhos sobre quão importante é respeitar o próximo e isso é repassado a criança também por meio do exemplo que eles dão dentro de casa. É necessário impor limites para as crianças, pois isso reflete em todas as suas atitudes”.
Ainda, segundo Talita, uma vítima acometida por bullying durante a infância pode levar consigo traumas para toda a vida, “o comportamento geralmente está associado à auto-imagem que é criada por quem sofre o bullying e isso pode levar a criança a ter medo, constrangimento, isolamento e, em alguns casos, ao suicídio”.
Ano: 2015
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