SUBIR E DESCER DO ÔNIBUS SÃO DESAFIOS PARA IDOSOS
- Carolina Falandes
- 28 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Essa população com mais de 60 anos não precisa de ajuda,
quer respeito.
Melhor Reportagem Impressa - Concurso de Comunicação USCS 2016
A velhice não mata, o que mata é a intolerância ao idoso. Mata os sonhos, a esperança e a vontade de viver. O idoso não precisa de ajuda, quer respeito. Respeito para envelhecer com dignidade e proteção.
Apesar do Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003, em seu Art.3º garantir a proteção dos direitos necessários ao envelhecimento com qualidade de vida, na prática estes não são atendidos satisfatoriamente. Esta negligência envolve serviços públicos, como a saúde, empresas privadas prestadoras de serviços e até maus-tratos dos familiares.
Com a estimativa crescente dessa população que tem idade superior a sessenta anos e segundo as últimas pesquisas divulgadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já supera 20 milhões de pessoas, é necessário colocar a lei em prática, bem como ensinar aos jovens a olhar para o idoso com mais afinidade.
No dia a dia, são muitas as dificuldades que atingem os idosos, a começar pelo fator mobilidade, de extrema importância para uma boa qualidade no envelhecimento, pois possibilita autonomia e locomoção. O ônibus é um dos meios de transporte mais utilizados para o deslocamento.
Nesta prática, os embaraços começam no momento em que o idoso dá sinal para o ônibus parar, se estiver sozinho no ponto, muitas vezes os motoristas nem param, testemunhos assim são constantes.
Por outro lado, quando o ônibus pára, ao olhar a altura dos degraus, é como se fosse encarar um desafio, “eu tenho dificuldade para subir, é muito alto e tem motoristas que param longe da guia, o que deixa mais alto ainda”, relata Maria Aparecida de Almeida, 69, de São Caetano do Sul. Este mesmo problema prejudica a mobilidade de mais duas idosas do município, Maria Madalena Seolin, 65, afirma “eu tenho uma prótese, para subir e descer do ônibus é muito complicado. Para solucionar esta situação é preciso adaptar todos os ônibus com degraus móveis e orientar que os motoristas acionem para gente subir”.
Marina Diniz, 74, relata outros constrangimentos que ocorrem nos coletivos, “eu sento na frente porque quando passava o cartão, a digital não era aceita e as pessoas ficavam me pressionando na catraca. Agora, o problema é com o motorista. Quando a gente apresenta o documento, eles não dão atenção, mas quando a gente não mostra, dão bronca e duvidam da nossa honestidade”.
Para Nilson Aparecido da Silva, 53, motorista de ônibus há 17 anos na região do ABC, “o idoso é um passageiro comum, apenas não paga passagem, que é um direito e deve ser respeitado. Por outro lado, precisa de maior atenção por conta das limitações, tem idoso muito debilitado, o que exige muita paciência da nossa parte”. Segundo ele, a empresa onde trabalha oferece coletivos que atendem as necessidades dos idosos, bem como cursos e treinamentos para os motoristas.
De acordo com a psicóloga Talita Barbosa Castro, 30, de Santo André, “respeitar o idoso é praticar empatia, se colocar no lugar do outro e ser sensível para imaginar como se sentirá quando a maturidade chegar. O idoso precisa de um olhar diferente, pois perdeu muito da sua capacidade física, porém, ganhou ao longo dos anos o primordial, a sabedoria. É importante lembrar que aquele que se doou no passado, hoje está carente de ser cuidado pelo próximo”.
Os constrangimentos causados em idosos pela falta de respeito aos seus direitos merecem reflexão de toda a sociedade no sentido de se construir caminhos que desviem da intolerância.
Ano: 2016
Comments